Este texto é fragmento do novo livro de Noêmia dos Santos, “Por uma Educação Libertadora”, que será lançado em Outubro.
Na opinião de Freire, o diálogo está fundamentado numa relação em que as pessoas não têm pretensão de ser mais que as outras. Elas se comunicam buscando interagir uma na fala da outra, com o propósito de juntas descobrirem uma proposta para a ação. Sendo assim, as pessoas em diálogo necessitam nutrir-se de “elementos constitutivos” do diálogo como amor, humildade, esperança, fé, confiança e pensar verdadeiro (práxis) para estabelecer relação de respeito mútuo entre os comunicadores. A receptividade da comunicação pode ser mais eficaz se os sujeitos participantes estiverem nutridos destes elementos constitutivos. Daí surge o conceito de diálogo enquanto ação para a prática da liberdade:
É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então, uma relação de simpatia entre ambos. Só há comunicação (FREIRE, 1981, p.107).
O diálogo é possível, segundo Freire (1975, p. 114-115), numa relação profunda de amor ao mundo e ao ser humano. Ao amar, acolhemos com mais disposição o que a pessoa amada sugere, embora seja diferente do que pensamos. Este sentimento dá condições para as pessoas superarem os conflitos gerados no momento do diálogo até chegarem ao acordo previsto. Sendo fundamento do diálogo, o amor também é diálogo. E o amor não acontece numa relação de dominação, mas de trocas recíprocas e respeito entre as pessoasem diálogo. Alémdisto, ele é um ato de coragem, e não de medo; o amor é compromisso com as pessoas, principalmente aquelas que estão oprimidas, excluídas à margem da sociedade. Como a coragem e o compromisso são características pertinentes ao amor, quem as têm se lança em projetos educativos para promoção e realização das pessoas cujos direitos de cidadão lhes são negados. Desta relação amorosa dialógica, nasce mútua aprendizagem, ou melhor, quem está coordenando também aprende com os demais participantes do projeto. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2003, p.26). Nestas relações de mútua aprendizagem há a transformação da realidade desumana e, consequentemente, a libertação do oprimido.
Para Freire, a humildade também é uma das condições para dialogar. Ao pronunciar o mundo, o homem recria-o, isto é, supera a antiga situação criando uma nova. E como esta recriação é constante, não pode ser um ato arrogante de algumas pessoasem particular. Para dialogar, necessário se faz enxergar-se como ser limitado e não perceber esta limitação apenas no outro. O diálogo torna-se impossível numa relação em que membros admitem-se como diferentes, virtuosos por herança e julgam os demais como seres inferiores. Desta forma, não reconhecem outros eus. O mesmo acontece, quando se sente participante de um gueto de pessoas puras, que possuem o poder sobre a verdade e o saber, e os demais são considerados seres inferiores (FREIRE, 1975, p.115). Um comportamento assim fecha-se ao diálogo, negando perceber o quanto as pessoas consideradas inferiores são importantes na transformação do mundo. Num espaço onde o sujeito percebe o seu valor enquanto pessoa, o diálogo se fortalece e pode estabelecer uma comunicação mais madura e mais consciente do seu papel e de cada um em transformar o mundo. Mesmo que haja conflitos, inquietações, quando já foi estabelecida esta relação, as pessoas não se fecham, mas tentam compreender-se.
Para Freire, a fé é outra condição para dialogar. “Não há também, diálogo, se não há uma intensa fé nos homens, fé no seu poder de fazer e refazer, de criar e recriar. Fé na sua vocação de Ser Mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens” (FREIRE, 1975, p.116). O fato de as pessoas perceberem que podem apostar nelas contribui para acreditarem, com mais convicção, em si mesmas. Este dado fortalece a militância em prol da luta para sair de esquemas que não condizem com o amadurecimento do ser humano. Com este amadurecimento, as pessoas, no processo educativo, percebem que o meio onde vivem é espaço de atuação também para elas.
De acordo com Freire, não há diálogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro (práxis) (FREIRE, 1975, p.118). Mas o que é um pensar verdadeiro? É aquele pensar crítico que vê o mundo como um processo, uma realidade a ser transformada constantemente se esta oprime o povo, principalmente o povo que está à margem da sociedade. Esta realidade deve-se transformar, e o pensar verdadeiro deve conduzir as pessoas oprimidas a se libertarem desta opressão, procurando, junto com seus companheiros, alternativas para sanar esta problemática que eles atravessam (FREIRE, 1975, p.118).
O pensar verdadeiro demanda profundidade na compreensão e na interpretação dos fatos. Isso implica na disponibilidade para a revisão dos achados, reconhecer não somente a possibilidade de mudar de opção, apreciação, mas o direito de fazê-la e assumir a mudança operada. Quando as pessoas estão neste processo, não é possível mudar e “fazer de conta” que não mudou. Para pensar verdadeiro exige-se coerência nas ações (FREIRE, 1975, p. 33-34).
Freire acreditava que o diálogo despertava a pessoa a ter esperança e consequentemente a buscar – não uma busca estritamente individual, mas uma busca em comunhão com as outras pessoas. Para que isto ocorresse, o diálogo precisava ser verdadeiro: não aceitar a dicotomia mundo-pessoa e reconhecer entre eles uma inquebrantável solidariedade. Além disto, só um diálogo que implica num pensar crítico é capaz de fazer este processo (FREIRE, 1975, p.117-119).
O diálogo motiva os sujeitos a ter esperança, pois lhes mostra a possibilidade de um mundo melhor. Assim, não pode ser uma esperança de cruzar os braços e esperar as coisas caírem prontas nas mãos; é uma esperança de lutar junto e vencer junto. Sendo o diálogo um encontro de pessoas que têm como objetivo querer Ser Mais, este encontro precisa criar meios de despertar-lhes a esperança (FREIRE, 1975, p.117-118).
Ao falar de esperança, Hubert Announ (1998) parte do pressuposto de que ela é uma aposta. Para ele, existem dois tipos de apostas: a expectante e a enactante. Ele esclarece que “a aposta que propomos na verdade e no valor dos pressupostos da educação não é a expectante. Não apostamos nem por indiferença nem por cálculo. Fazemos uma aposta enactante que implique, ao mesmo tempo, a representação de um projeto e a ação prática para sua realização” (ANNOUN, 1998, p. 131). A proposta de educação freireana é uma aposta enactante: ao mesmo tempo em que ele apresenta um projeto de educação libertadora, ele enfrenta os desafios para pô-loem ação. O pensamento de Announ é semelhante ao de Freire no que se refere à mobilização para a ação:
a aposta enactada, que fundamenta princípios da educação, é […] portadora de uma esperança mobilizadora. É pensamento-ação. É um mesmo ser que tem uma face que é pensamento como projeto teórico e outra que é ação como realização das condições de realização do projeto, portanto do sucesso da aposta (ANNOUN, 1998.p.145).
Ao partir deste ponto, é possível perceber que a aposta enactada é justamente a proposta de educação que Freire defende: uma educação que leve os educandos a apostarem em dias melhores e a acreditarem que são seres inacabados com a vocação ontológica de Ser Mais, descobrindo assim o sentido de suas vidas. Desta forma, a aposta educacional não pode ser expectante, ficando apenas na expectativa e não partindo para ação. Freire espera uma mobilização da educação para acionarem as pessoas a irem além do que elas são: a Ser Mais.
Além disto, vale salientar que, para Freire, se a fé é um dado do diálogo, a confiança também faz parte dele. A confiança é suporte para os sujeitos dialógicos serem cada vez mais companheiros ao pronunciar o mundo. Se a confiança for falha, é porque falharam as condições discutidas anteriormente. Um falso amor, uma falsa humildade, uma falsa fé nos homens não podem gerar confiança. A confiança se estabelece no testemunho que alguém dá aos outros de suas reais e concretas intenções. Sendo assim, a confiança não pode existir quando se prega uma coisa e os atos da pessoa afirma outra. Se a palavra não é levada a sério, não pode ser estímulo à confiança (FREIRE, 1975, p.117).
Sim, para cem por cento dos (as) Professores (as). A metodologia de trabalho utilizada melhorou a confiança nos alunos (as) e Professores (as) por meio do diálogo e das técnicas empregadas. Despertou a criatividade e o respeito aos semelhantes. Desenvolveu a percepção, a análise e a crítica integrando os saberes. Oportunizou a interação dos conhecimentos de forma alegre e divertida, estimulando o desenvolvimento das habilidades e das competências, motivando a ação e a transformação escolar e social de forma individual e coletiva. Oportunizou a aprendizagem de forma alegre e muito divertida, encantando o (a) aluno (a).